Fontes de Vida (Céu, Março de 2010) |
"Em cada palavra um grito,
Em cada grito a Vida,
Esse é o estrume"
José Gomes Ferreira, Poeta
Há muito tempo que tenho vontade de escrever sobre a minha experiência com o cancro.
Sem eufemismos...
Depois, como sempre, sinto pudor.
Tenho, ainda, receio de chocar.
Receio que transpareça a minha fragilidade e/ou força.
Medo de ficar vulnerável.
Tenho, sempre tive, cuidado, para evitar sentimentos de piedade, de que não gosto e não são, aliás, para aqui chamados.
O meu objectivo não é, nunca foi, a publicidade da doença, mas sim a apologia da vida.
Ou seja, não quero ter de mim saudades de ser saudável, antes fazer diariamente a aprendizagem de um novo caminho.
Tem sido esse um dos meus lemas nos últimos 17 anos.
É difícil, mas não devo ceder terreno, não devo fazer concessões.
Por vezes, é mais cómodo utilizar eufemismos, mas o cancro é para olhar de frente, numa autêntica "pega de caras", para a qual, não nego, é preciso ter Fé.
Acredito que as vivências podem resultar quando são partilhadas.
De que serve ter estórias para contar, se não as dividimos?
Assim, pouco a pouco, vou deixando neste espaço o meu testemunho, com emotividade, mas sem romancear, com verdade mas sem auto-comiseração, lembrando sempre que a linha que separa uma da outra é muito ténue.
Não vale a pena imaginar que a vida é cor-de-rosa ou só a preto e branco.
O que vale a pena é lutar, ter esperança, e, acima de tudo, viver sem amargura.
Com deslumbramento.
Viver um dia de cada vez!
Céu
" Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo (...) "
Álvaro de Campos, Tabacaria, 15-1-1928