segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Há dias assim !

Doce Harmonia   (Céu 2011)


“Doi-me a cabeça e o universo “
Fernando Pessoa



Os aromas trazem-nos à memória outros tempos, outros momentos.
Uns bons, outros nem por isso!

Despertei hoje com um cheiro que me fez lembrar a “quimio”.
Num instante, o mesmo sabor a metal, a mesma náusea e um-nem-sei-o-quê de repulsa tornou desconfortáveis o meu corpo e o meu cérebro.

 Que o dia iria correr mal, já era quase certo!
Senti-me encurralada.

Saí de casa.

Lembrei-me do assunto que tinha agendado para hoje.

E que teria de o tratar com alguém,  que por sinal, está sempre de mal com a vida e com os outros!

Pensei telefonar para desmarcar, pois não estava com paciência para ouvir lamúrias ou para que, à mínima contrariedade, me levantasse a voz ou fosse desagradável.

É estranho,  mas a maioria das pessoas confunde gentileza e amabilidade com “pieguice”, fraqueza ou “lamechice”.

Será que, por vezes, nos esquecemos que ao tomarmos atitudes a favor dos outros, as mesmas podem provocar ânimo, prazer e alegria?

E que o inverso também é verdade?
Será que nos preocupamos em tratar quem está próximo de nós com cuidado, “sem que a bondade seja associada à fraqueza”?

Que vergonha é esta que nos tolhe e nos impede de mostrar o amor, o carinho, o afeto, o respeito e até a compreensão pelas falhas dos outros?
Muitos dirão que isto é utopia, que as mudanças têm de ser estruturais, que dependem de todos e não de cada um.

Mas perdoe-se-me a minha ingenuidade, acredito claramente que uma formiga ao mudar de sentido no carreiro, pode fazer a diferença.
Imagine-se então se muitas a seguirem ...

(O "Zeca" foi um dos que tão bem cantou isto da formiga!)
Foi por isso que,  apesar da náusea, da indisposição, do “mau” sabor do café e das memórias dolorosas,  enfrentei o dia, disposta a não me deixar "levar" pelo humor negativo do meu interlocutor.

Talvez comece por lhe demonstrar que, e citando Almada Negreiros: “A alegria é a coisa mais séria da vida” .

 Ou que “É possível mudar as nossas vidas e a atitude daqueles que nos cercam simplesmente mudando-nos a nós mesmos” ( Rudolf  Dreikurs).     


Céu.