domingo, 30 de janeiro de 2011

Empatia

Praia d' El-Rei, 2009

"Nas praias do Oceano
Ao som dos seus bramidos
Enlevam-se os sentidos
Escuta o coração"
                    
                     (Júlio Dinis)


As pessoas desaprenderam de mostrar afecto.
Têm vergonha da ternura.
De um abraço.
De dizer: Gosto de ti.
Talvez, amanhã...
Que nem sempre chega.
De perguntar: como vais?
E escutar a resposta.
De olhar a chuva, de ouvir o vento, de sentir o afecto de uma criança...

Há um afastamento físico entre as pessoas, com consequências negativas na empatia e na expressão dos afectos.

Há uma tentação em cada um de se fechar sobre si próprio, como que à procura de respostas dentro do seu ser, criando em simultâneo a ilusão de uma grande sociabilidade no seu mundo virtual.

Citando Alçada Batista: "talvez as pessoas não sejam capazes de estar com elas próprias e não sei se o ritmo que imprimimos à sociedade irá permitir esse reencontro."

Foi detectada, a nível mundial, uma quebra acentuada da empatia, essa "capacidade de cada um se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende".

Existe, porém, uma outra face do desenvolvimento, no qual poucos parecem estar interessados:  o da expressão dos afectos.

Como alguém referiu "por vezes a revolução ou ser-se revolucionário surge sob a forma de afectividade".

Não tenhamos medo da palavra: precisamos mesmo dessa revolução.

É urgente o desassossego contra a apatia.

O Futuro chegou sem que estivéssemos preparados para o receber.

Temos pressa. Temos sempre pressa.

E esquecemo-nos do que é verdadeiramente essencial: a partilha dos afectos.

Até porque só existimos se estivermos dentro daqueles que gostam de nós!


MC

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

PAI





Oura, Vidago, 2009






...E eu estou mais perto de ti

porque te amo!

Tu ensinaste-me a fazer

uma casa com as mãos,

com os beijos

e com o riso.

Sim, tu estás em toda a parte nesta casa!


MC



sábado, 22 de janeiro de 2011

Uns e Outros

Hoje é noite de reflexão.

Amanhã, os cidadãos deste País são chamados a votar no seu Presidente.

Não sei bem porquê, lembrei-me do filme "Les Uns et les Autres", que me ensinou a gostar um pouco mais do "Bolero" de Ravel...

Sublime!


MC





"C'est pour la musique q' a commencé l' indiscipline"  (Platão)


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"Não te agarres nunca, apoia-te só"

No Livro "As Palavras", Sartre escreve uma coisa extraordinária: " não te agarres nunca, apoia-te só".
Uma vez, li uma entrevista de Agustina, em que ela recordava a avó e a sua filosofia de vida baseada naquela ideia de Sartre.

Dizia Agustina que " agarrar é a vontade de se segurar, de corrigir; apoiar-se é dar liberdade a si próprio e aos outros" .

A propósito desta ideia e sem qualquer pretensão, deixo aqui um apontamento escrito em Setembro de 2007, à volta de uma bengala, que ainda hoje conservo:

É forte e leve.
exótica,
a fazer lembrar África.
É antiga,
artesanal,
rústica.
De que árvore escolhida
me fala esta bengala?
Intriga-me.
É misteriosa,
feminina.
É Mulher.
Tem "marca" de homem,
de faca de mato,
de canivete.
Tem "marca" de mão.
Falou-me de "estórias",
quando nos vimos.
Veio comigo,
tratei dela.
Ajeitei-me a ela.
Precisa de "bater",
segura e suave,
sem se fazer ouvir.
Adoptou-me. 
Escolhi-a.
E diz-me:
"Apoia-te só, 
não te agarres nunca". 
Óbidos, 2010


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Lisboa - Cidade por mim Amada

Lisboa, a partir de Almada Velha, 2010

 
LISBOA

DIGO:
"LISBOA"
QUANDO ATRAVESSO - VINDA DO SUL - O RIO
E A CIDADE A QUE CHEGO ABRE-SE COMO SE DO SEU NOME NASCESSE
ABRE-SE E ERGUE-SE EM SUA EXTENSÃO NOCTURNA
EM SEU LONGO LUZIR DE AZUL E RIO
EM SEU CORPO AMONTOADO DE COLINAS -
VEJO-A MELHOR PORQUE A DIGO
TUDO SE MOSTRA MELHOR PORQUE DIGO
TUDO MOSTRA MELHOR O SEU ESTAR E A SUA CARÊNCIA
PORQUE DIGO
LISBOA COM SEU NOME DE SER E DE NÃO-SER
COM SEUS MEANDROS DE ESPANTO INSÓNIA E LATA
E SEU SECRETO REBRILHAR DE COISA DE TEATRO
SEU CONIVENTE SORRIR DE INTRIGA E MÁSCARA
ENQUANTO O LARGO MAR A OCIDENTE SE DILATA
LISBOA OSCILANDO COMO UMA GRANDE BARCA
LISBOA CRUELMENTE CONSTRUIDA AO LONGO DA SUA PRÓPRIA AUSÊNCIA
DIGO O NOME DA CIDADE
- DIGO PARA VER

Sophia de Mello Breyner Andresen



Lisboa, a partir do Cristo Rei, 2010

 
Encontrei este poema numa parede do Miradouro da Graça, sítio privilegiado para "olhar" Lisboa.
O busto da Poeta, no mesmo local, parece como que em deleite contemplar a cidade...
Tal como eu em cada regresso.
Olho Lisboa e amo-a
sinto-a
sinto-me em casa.



quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pamplona - balanço de uma década




Foi aqui, em Pamplona, que descobri o verdadeiro terror. Aquilo a que chamo o meu "tsunami".
Mas foi também aqui que descobri a coragem e a "fibra transmontana" , que me têm ajudado a seguir em frente e a ver o lado positivo, belo e prazenteiro da vida.
Dez anos de emoções, de frustrações, de avanços e de recuos, de passos atrás para poder dar passos em frente, tudo isto esta cidade testemunhou.
Pamplona vai ficar para sempre ligada à minha vida.
Estou-lhe grata.
E à sua Clínica.
A Clínica Universitária de Navarra.
Aos seus médicos e outros profissionais.
Este é o balanço de uma década.
Mas a "história" continua...
Já em Setembro próximo.


Pamplona, 12 de Janeiro de 2011 

Memória


Oura, Vidago, 2009

 
"Afinal, a memória não é um acto de vontade. É uma coisa que acontece à revelia de nós próprios."

       Paul Auster  


Uma coisa é certa: mesmo que não queiramos, mesmo que não pensemos, voltamos sempre à terra onde nascemos.

Nem sempre podemos fazê-lo visitando-a, mas, mesmo à distância, há muitas maneiras de matar saudades.

Hoje, aqui em Pamplona, entre um exame médico e outro, veio-me à memória esta foto da minha terra, da minha casa. 

À janela, eu e a minha sobrinha sorrimos para o futuro...a partir das nossas raízes.

O percurso é difícil e tem sido duro, como são os calhaus de granito e xisto das terras transmontanas.

É aí que vou buscar a inspiração e a força, para a minha vida, para a minha luta.

E para a minha vitória.

Pamplona, 12 de Janeiro de 2011

MC