Mar da Rocha (Céu, 2011) |
ESTA GENTE
Esta gente cujo rosto
... Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen,
in Obra Poética (Caminho, 2010)
2 comentários:
Foi a 25 de Abril do ano passado que, num momento de reflexão, encontrei neste poema de Sophia um apelo à renovação.
Publiquei-o, nesse dia, no meu blogue, encimado pela fotografia de uma mulher, Celeste Quitério, que bem conheço e cujo rosto me lembra o tempo da criadagem e da escravidão.
Boa escolha, Céu.
Obrigada, Pedro, pelo teu comentário.
Realmente este poema faz-nos pensar, especialmente nos tempos que correm.
Foi por isso, e também porque gosto particularmente de Sophia, que o publiquei nesta rubrica.
Bjs
Céu
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