Praia d' El-Rei, 2009
"Nas praias do Oceano
Ao som dos seus bramidos
Enlevam-se os sentidos
Escuta o coração"
(Júlio Dinis)
Têm vergonha da ternura.
De um abraço.
De dizer: Gosto de ti.
Talvez, amanhã...
Que nem sempre chega.
De perguntar: como vais?
E escutar a resposta.
De olhar a chuva, de ouvir o vento, de sentir o afecto de uma criança...
Há um afastamento físico entre as pessoas, com consequências negativas na empatia e na expressão dos afectos.
Há uma tentação em cada um de se fechar sobre si próprio, como que à procura de respostas dentro do seu ser, criando em simultâneo a ilusão de uma grande sociabilidade no seu mundo virtual.
Citando Alçada Batista: "talvez as pessoas não sejam capazes de estar com elas próprias e não sei se o ritmo que imprimimos à sociedade irá permitir esse reencontro."
Foi detectada, a nível mundial, uma quebra acentuada da empatia, essa "capacidade de cada um se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende".
Existe, porém, uma outra face do desenvolvimento, no qual poucos parecem estar interessados: o da expressão dos afectos.
Como alguém referiu "por vezes a revolução ou ser-se revolucionário surge sob a forma de afectividade".
Não tenhamos medo da palavra: precisamos mesmo dessa revolução.
É urgente o desassossego contra a apatia.
O Futuro chegou sem que estivéssemos preparados para o receber.
Temos pressa. Temos sempre pressa.
E esquecemo-nos do que é verdadeiramente essencial: a partilha dos afectos.
Até porque só existimos se estivermos dentro daqueles que gostam de nós!
MC